Illecaro – Pt 1

Era uma vez um reino encantado chamado Apilif. Nesse reino todos viviam na mais pura de todas as harmonias e a honestidade era o prato do dia. Era o Local perfeito para se viver e todos que ali moravam sabiam disso. Um dos habitantes do reino era um elefante mágico que gostava de dar longos passeios pelos prados verdejantes. Esse elefante era enorme e, por isso, sentia-se um pouco marginalizado por aquela comunidade perfeita. Ele era como que a ovelha negra num rebanho imaculado. O elefante jamais se tinha conseguido encaixar no meio dos outros animais de Apilif e a sua condição como ser mágico não ajudava em nada. O pai e a tia do elefante Illecaro tinham cargos importantes no castelo e eram muito adorados por todos como se fizessem parte da realeza do reino. Mas, mesmo assim, Illecaro era um elefante solitário de quem todos tinham medo e por isso não se aproximavam dele. Illecaro tinha passado toda a sua infância em brincadeiras ora sozinhas ora com Sojna o seu ratinho e amigo imaginário. Era um dia de Inverno e Illecaro sentia-se mais deprimido que o habitual. Naquele dia, a saudade que sentia de Zabe, sua mãe, estava a apertar e por isso ele sentara-se na porta de sua casa a contar os pingos de chuva naquele dia solarengo. Já ia nos 131 quando ouviu uma vozinha dizendo-lhe: - Olá Illecaro, tenho-te observado. Pareces-me um elefante diferente dos demais. Eu sou Sojna e gostava de ser teu amigo. À primeira vista até Illecaro achava a forma do seu amigo imaginário estranha, afinal de contas toda a gente sabe que elefantes e ratos não foram feitos para serem melhores amigos. No entanto, com o passar do tempo, Illecaro habituou-se a ideia e ficou muito chegado de Sojna ao ponto de serem inseparáveis. Sempre que podiam ficavam juntos desde o nascer até ao pôr do sol. O pai de Illecaro ficava alarmado quando este lhe contava sobre as suas mil e uma aventuras com o ratinho, porém, como era uma pessoa muito ocupada, rapidamente esquecia o assunto, alegando que devia ser uma coisa da idade e que depois passaria. Ele tinha razão. No dia em que Illecaro completara 15 primaveras Sojna dissera-lhe que aquela seria provavelmente a última vez que se veriam. Illecaro tinha ficado inconsolável. Nos primeiros dias chegara até a pensar que seria melhor nunca ter conhecido Sojna porque agora sentia-se muito mais sozinho que antes. Rapidamente esse sentimento mudara. Illecaro sabia a importância dos momentos passados com o ratinho e queria guardá-los como maior tesouro da sua vida porque amigos assim nem todos os elefantes têm a sorte de encontrar. Apesar de Illecaro saber isto, a saudade que ele sentia de Sojna aumentava de dia para dia e as escuras trevas da solidão cada vez o consumiam mais. Foi nessa altura que Illecaro começou a dar os seus passeios pelos campos, como forma de abstração. Illecaro estirava-se na relva e ficava observando o céu, pedindo a todos os astros pela volta de Sojna. Todos os dias o Ritual era mesmo, seguido de uma longa caminhada, cerca de uma ou duas horas de pedidos aos astros. Este ritual fora repetido milhares de vezes até ao dia em que Illecaro fazia 20 anos. Nesse dia, como sempre, ele estava deitado na relva mas, desta vez, alguma coisa estava diferente. Illecaro no início não sabia bem o que era, mas sentia-o no seu íntimo. O sol ainda não se tinha posto, então, era ele o único alvo das preces.

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