Reinado do silêncio


Há vozes que se distinguem numa multidão em surdina, sobem no ar e distanciam-se perdendo o seu tom. Há aquelas que se envergonham com o silêncio e que se calam em murmúrios, que apesar de praticamente inaudíveis, são insolentes. Porém, existem ainda aquelas que acompanhando ou não uma multidão de vozes se soltam no silêncio, mesmo que seja num som calado. Na mente de quem as governa, estridentes, cantam uma música de embalar nervosa e irritante que em vez de adormecer acorda partes cerebrais há muito esquecidas.
Numa dança sonora comandam, hipnoticamente, as palavras que quebram o silêncio, os murmúrios que deixam de o ser quando tocam os lábios, os gritos calados abafados por tornados inexistentes.


Os sons batalham, mas nenhum vence, todos perdem a consistência que nunca tiveram e ganham o silêncio que os cala. Eis que o silêncio ocupa o lugar do som que, por sua vez, o tinha roubado ao silêncio. Assim, tudo volta ao normal, um normal inesperado, mentiroso, pirómano e ilusionário.

Quando acaba a guerra musical os sons perdem cor e o próprio tom. É o reinado do silêncio e o som, assustadoramente alto, pede a libertação das cordas vocais.

[Espero dar os devidos créditos! Fotografia de Marilia Coutinho em http://galerias.escritacomluz.com/gasoline/alicenopaisdosmagosscotland/aaf ]

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