História esbatida



Foi há muito, muito tempo... com um " estalito" uma realidade fria, crua, arranhada, cravada atravessara-se à minha frente. Nesse dia a mentira fora desmentida e a crença de pesadelos infinitos comprovada e a mente foi desarmada, já não restavam mais mentiras por inventar

Nesse dia que se perdeu nos confins do tempo, ou que pelo menos foi empurrado para um baú poeirento dos recantos da memória, o corpo contraíu-se e implorou por desterro. Evadiu-se por ruelas achadas e lágrimas perdidas. Nessa ronda de ruas transfiguradas a alma doía e eu gemia, a alma doía só que eu não chorava porque a forca não estava no coração que pulsava e sim na garganta que soluçava.



Perdida e amargurada desfaleci no escuro de uma rua onde quase morri! Lamentei momentos amados e sentimentos disfarçados e só estavam um ombro compreensivo e rostos desconhecidos a assistir. Fui perdendo a noção do tempo e ganhando a noção do espaço, um espaço inimigo e assassino!


Tomaram-me por louca, por viciada, mas já doía tanto que tais pensamentos não valiam nada!

Sentei-me no chão de olhar perdido enquanto examinava um rosto plenamente desconhecido, um rosto que nesse momento odiava.

A calçada estava fria e chovia e eu sentada só me lembrava do conteúdo de conversas infinitas...


Pressenti o "The End" de um drama só que as crianças continuavam a sorrir e o sol só não ia alto porque as estrelas haviam tomado o seu lugar. Pedi a uma delas mais um dia na mentira depois, de em dias anteriores, ter pedido a todas a absolvição da cegues propositada.

Permaneci querendo procurar um lugar vazio, um lugar onde o nada fosse tanto que me fizesse sentir mais preenchida. À primeira tentativa cambaleei, mudei de sítio e lá me sentei; À Segunda fiquei tonta, olhei para o céu e desejei estar morta. Mais tentativas não houveram, depois só uma noite longa que acabei por apagar porque não foi mais do que reviver um passado perdido por um "estalito".


Nos dias que se seguiram a podridão tomou posse de um cadáver empobrecido pela falta de éter de alma. Anaforicamente, foi também nesses dias, regados por lágrimas esbatidas, que percebi o que sentia e que nunca tive o que perdi. Nas manhãs desses dias que não vivi, mascarei-me com falsidade e preparei-me para deambular num Carnaval de Janeiro; Nas noites acompanhadas fiz de conta que me esqueci até que numa delas um silêncio incompreendido fez-me pensar: "acabou aqui!". Não me senti corajosa, nem tão pouco soube que a dor acabava ali, apenas tive uma visão, visão essa que dificilmente esqueci!

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