Caos metafórico
Acordo. Levanto-me. A realidade atinge-me.
À esquerda há caos; à direita há caos e o mesmo acontece em cima e em baixo. Destroços de uma batalha milenar convergem e multiplicam-se num marasmo de coisas com as quais eu não consigo lidar.
A vida é tão mais forte do que eu e é essa a batalha que eu tenho de travar. Batalha perdida contra o inevitável, contra os meus não-desejos de tanto tempo, contra atitudes que não são minhas e outras coisas mil que eu simplesmente não posso influênciar. O que é que posso fazer? Olhar calada e muda para essa devastação, esperando, de braços abertos pelos sobreviventes. Enquanto o tempo passa, eu mesmo me afundo nesse caos de coisas.
Se ao menos eu pudesse ter os braços do tamanho do Mundo e neles um poder que ninguém pode ter. Se ao menos as palavras me saíssem da boca quando tudo o que eu quero dizer é: "vai ficar tudo bem". Se ao menos eu fosse o dobro do que alguém pode ser e aí estaria tudo bem. Se ao menos eu pudesse separar o Caos e trazer a luz.
NÃO POSSO! Esta impotência desmedida sufoca-me tão mais que o meu próprio caos. Tudo desmorona e eu nem posso culpar arquitectos, nem pedir ajuda a bombeiros. Isto é a vida a trabalhar silenciosa e venenosa nas suas artimanhas.
O que é que eu posso contra a vida? Perdurar. Mas isso torna-se tão pouco no Caos. Juro a mim mesmo que há em mim força suficiente e que não vou fugir mesmo que a vontade me consuma. Eu não posso fugir! Esta solidão é só uma aparência mentirosa. Se eu estivesse sozinha não ia doer tanto... Não haveria caos...
Todos os pensamentos do que eu devo ou não fazer, todos os desabafos que não posso abraçar, todas as lágrimas que eu nem vejo cair, todos os medos que crescem em mim, todas as horas que eu não consigo dormir... Eu já me tinha sentido assim! Foi quando cresci... E agora?
[Imagem de Mafagafos. Em:
Uma dia a vida vai apodrecer em mim. Isso é perder ou ganhar?
Eu só queria acordar outra vez...
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