Coração de éter

 

 

Lentamente esta folha de papel branco se transforma de maneira igual aos meus momentos que se alteram, no entanto, estes padecem da calmaria necessária para compor frases.

O vendaval do meu negrume não são códigos algébricos são lascas de partes de mim que para além de quebradas se me espetam na carne e o me sangue chora. Chora porque esqueceu a sua função, esqueceu a rota da sua existência e esqueceu ainda que deve ajudar na sobrevivência.

A mente que se fecha aos sentidos e o coração que transpira audácia. É isto o amor? Ou a minha nota descansada ao lado da adaga que reflete vermelho?

Muitas vezes a questão sobre o que é o nada se levanta e toma forma mesmo que isso seja um paradoxo. Paradoxo absurdo é o nada que me preenche e me mantém ligada à saudade do tudo. O que é tudo? Como pode isto ser o meu tudo? E o Nada, é a falta de tudo?

O Nada é a morte de quem vive... Paradoxal o suficiente? Talvez ainda não.

Sonhos de uma vida todos temos, mas e quando o vento sopra e eles são obrigados a mudar? Eles alteram-se para o inexplicável. Eu quero uma coisa que eu mentalmente não consigo conceber só que a minh’alma insiste em oscilar entre o éter e o cárcere tumular.

Todos os meus olhares e gestos são espelhos de motivos que não são meus. Doutro mundo eles recebem a salvação ou rendição, a escolha de serem alegres na distância ou mortos na ausência.

Nada mais me condena ao enforcamento que o fado saudosista do que é teu e eu não provei, do que é teu e jamais me pertencerá, do que é teu e eu não vejo, cheiro, oiço, toco. O Vazio do que é teu e eu nunca senti.

De armadura e com a arma em punho desafiei os titãs da vida. Agora, calcada no meu próprio chão que não existe, peço pelo doce veneno que porá fim a tudo isto. Na minha cobardia feroz aguardo no passar do tempo marcado por um gotejar. A dor da seta que se me cravou no calcanhar.

Estou comprimida entre as quatro paredes platónicas de algo que nunca foi o que eu desejei e que, no entanto, agora me pendura com a corda rasgada da impossibilidade de o ter.

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