[Poema] Noiva para sempre adormecida


Sepulcral silêncio religioso,
Imundo cheiro mofoso.
Na madeira envernizada,
Sem véu, cabelos soltos no nada.
Brilhantes, pretos e esvoaçantes.
Doce e para sempre congelada,
No seu estado de mais profunda graça.
Que mal fizeram os amantes?
Abatida por nenhuma razão.
Perdida mesmo antes de entregar seu coração,
Sucumbida na mais triste desgraça.
Estava a noiva no seu caixão.
Sua tez pálida no contraste da escuridão.
Nas suas mãos o bouquet e na face o sorriso.
Muito mais lágrimas do que seria preciso.
Mas a moça inspirava compaixão,
Dor, tristeza e insatisfação.
Tão nova e tão linda...
O vestido rendado não lhe faz justiça.
Cadáver e ainda vítima de cobiça.
Por isso a morte a quis na mão.
Lábios rubros que perdem a cor,
Seu noivo quebra-se sem pudor.
Uma vida sem começo se finda.
Ela parece de cristal,
Floco de neve numa igreja.
Sem mais pegadas de amor no litoral.
É Deus que assim o deseja!

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